Hellblade 2, lançado dia 21 de maio de 2024, é um jogo que merece atenção e uma análise detalhada, sem dúvida. O jogo da Ninja Theory, estúdio comprado pela Microsoft, fez mais um trabalho primoroso de pesquisa e um uso adequado do motor gráfico Unreal Engine 5.

Podemos dizer aqui que é o que há de melhor no quesito gráfico da atualidade, com diversas técnicas surpreendentes de encher os olhos de quem curte games imersivos. Comento aqui uma análise de diversos aspectos a serem considerados antes de jogar Hellblade 2 – Senua’s Saga.

Hellblade 2 – Análise

Para a galera que fica falando “ah, mas nunca vi jogo com Unreal Engine com gráficos assim” – agora vocês estão vendo, e está rodando bem.

De tempos em tempos, eu faço vídeos no canal falando sobre itens ultra realistas, itens muito realistas que podem ser utilizados para a criação de jogos, e sempre aparece alguém dizendo: “nossa, mas eu nunca vi um jogo com gráfico tão bom, onde estão esses jogos com gráficos incríveis?”.

O que essa galera tem jogado recentemente? Só recentemente, vimos Alan Wake 2, que tem gráficos absurdos. Agora temos Hellblade 2. Se voltarmos um pouco atrás, veremos Red Dead Redemption 2 e vários outros jogos. O próprio God of War tem gráficos incríveis.

Mas acho que o que acontece é que muita gente, infelizmente, não tem hardware ou computador bom o suficiente para rodar esses jogos, ou não tem um console de última geração, ou uma televisão boa.

Acabam vendo só vídeos no YouTube, o que cria uma realidade em que as pessoas não sabem direito em que situação estamos em nível gráfico.

Hellblade 2 utiliza fotogrametria para conseguir ter itens 3D extremamente realistas. Basicamente criam itens 3D a partir de fotografias de locais e objetos reais.

Galera, já estamos num nível gráfico sensacional, de um realismo muito bom. Se você joga em 4K ou em 2K, com um monitor adequado e na qualidade máxima desses jogos, você já tem uma qualidade fantástica.

Muita gente acaba não tendo contato com os gráficos como eles são de fato, ou não prestando atenção nesses jogos que saem. Hellblade 2, meus amigos, é um dos jogos mais fantásticos que temos atualmente em quesito gráfico. E aí entra outro ponto que quero comentar, mas deixo para falar mais à frente.

E bom, Hellblade 2 rodou no máximo no meu computador mesmo sem eu ter uma placa de vídeo de topo do mercado, eu rodei o game com tudo no máximo com uma Nvidia RTX 3070.

O jogo rodou lindo e perfeitamente na maior parte do tempo, foram raros os momentos em que teria sido bom ter uma placa melhor.

E sim, no meu caso, a placa era o grande limitador. Inclusive, o jogo te ajuda a descobrir isso já no menu enquanto está fazendo as alterações gráficas, ele mostra quanto de memória há disponível no sistema (não só quanto o jogo está usando como a maioria das aplicações faz – como o próprio Resident Evil faz).

Acho mesmo que está na hora de dar um upgrade no meu PC, minha 4070 Ti Super da MSI simplesmente pifou, enviei de volta e fiquei com o reembolso da garantia. Nos próximos meses devo fazer esse mesmo upgrade para garantir a qualidade do canal.

De qualquer forma, muito da hora essa possibilidade de ter a pré-visualização dos gráficos em tempo real, algo que não é difícil de ser feito e que foi disponibilizado com excelência.

Claro que outros jogos já fizeram algo semelhante, mas mostrando todos os detalhes como aqui é novidade pra mim.

A linearidade é amiga da qualidade, mas não a garante.

Me perguntaram por que jogos lineares ou jogos de narrativa, onde você segue uma história, normalmente conseguem ter uma qualidade gráfica e visual melhor, ou uma qualidade geral nos aspectos técnicos.

Isso não é difícil de entender, mas vou comentar aqui porque me perguntaram no último vídeo sobre Hellblade.

O que acontece é o seguinte: quando você vai construir uma linha reta, você pode revisitar essa linha várias vezes e garantir que ela vai acontecer daquela forma.

Quando você tem muitos elementos para cuidar, uma variação muito grande ou uma imprevisibilidade grande, você não tem como garantir a qualidade de tudo.

Por exemplo, em um jogo como Fallout, ou qualquer jogo da Bethesda com muitas escolhas ou muitos caminhos, como você vai cuidar de cada cutscene ou de cada frase que um personagem vai falar? Não tem como.

Você tem que abrir mão de qualidade para conseguir a quantidade possível de diálogos. Se eu tenho ali quatro falas e cada uma delas tem outras quatro possibilidades, como vou garantir a qualidade de cada animação desse personagem, tanto facial quanto corporal? Não tem como.

O que vai ajudar a ter quantidade e qualidade será, com o passar do tempo, a inteligência artificial. A inteligência artificial vai tomar decisões para ajudar a situação a ficar o mais plausível possível e conseguir adaptar ao máximo, por exemplo, uma fala, ajustando a animação facial e corporal da melhor forma possível.

Mas ainda assim, quando você tem o controle de apenas uma fala, e pode fazer com que ela seja da melhor forma possível, você vai conseguir uma qualidade muito melhor do que em uma fala com quatro possibilidades.

Isso se expande para tudo. Quando você sabe que o personagem vai passar por aquele cenário, você garante que o ponto de vista do jogador seja o melhor possível.

Você sabe o que vai aparecer na câmera. Quando você tem muitos locais para o jogador visitar, acaba ficando mais genérico, pois você não sabe por onde ele vai passar. Ele pode passar por qualquer lugar, então você tem que garantir uma qualidade média para todos os lugares.

É lógico que, quando há um ponto mais central, você capricha mais, mas todo o resto fica mais difícil de garantir a mesma qualidade.

É por isso que jogos como Red Dead Redemption são fantásticos. Mesmo com muita quantidade, eles ainda têm muita qualidade.

Mas, ainda assim, não se comparam a jogos como The Last of Us Part II ou Hellblade 2 nas cenas principais, que conseguem ter mais qualidade.

Enfim, Red Dead Redemption 2 já é um jogo mais antigo, então é até injusto trazê-lo para a comparação.

Mas é só para começarmos a entender por que jogos lineares conseguem entregar coisas fantásticas, enquanto jogos mais abertos tendem a ter animações mais genéricas em vários momentos.

E claro, não é porque o jogo é linear que ele será um game de qualidade, mas certamente terá mais chance de acertar melhor os detalhes do que oferecendo múltiplos caminhos.

Jogos como Far Cry e outros são tradicionais nas técnicas, um exemplo é o pop de LOD na tela. Hellblade simplesmente não tem isso.

Outra coisa fantástica de notar em Hellblade é o quanto ele é sutil na otimização. Meus amigos, ele é muito sutil na otimização, proporcionando uma experiência mais fluida e tranquila.

Se você pegar jogos mais antigos, verá que esse é um ponto de evolução do motor gráfico Unreal Engine 5, que está fantástico mesmo.

Uma técnica muito antiga usada em jogos é o LOD (Level of Detail), que basicamente ajusta a qualidade dos objetos carregados de acordo com a proximidade. Quanto mais próximo você está de um objeto, melhor a qualidade dele. Quando está longe, a qualidade é reduzida.

Em Hellblade 2, isso é quase imperceptível. Não há aquela troca de LOD visível. O que percebi foram algumas partículas sendo desativadas, mas a qualidade dos personagens se mantém alta. Durante a jogatina, não há como perceber essa troca de LOD.

Recentemente, joguei Crysis 1, um jogo muito antigo, onde a mudança de nível de detalhes dos itens e cenários é muito perceptível.

Hoje, mal dá para perceber isso em Hellblade 2. Não sei se o pessoal da Ninja Theory, estúdio que criou Hellblade 2, utilizou a tecnologia Nanite, que é uma tecnologia da Unreal Engine para otimização baseada em pixel.

Ela não faz a otimização de modo tradicional, mas de forma muito mais sutil, o que pode ser uma explicação para a qualidade gráfica incrível que vemos em Hellblade 2.

Outra técnica comum é o culling, que remove objetos que não estão na tela para otimizar o processamento.

No Crysis 1, isso era muito evidente, afetando negativamente a experiência do jogador, com objetos aparecendo de repente conforme você se movia. Hoje, isso é inaceitável. Em Hellblade 2, esse “pop” na tela é imperceptível, o que cria uma imersão incrível e fantástica.


Jogue com fones de ouvido

Hellblade 2 tem um sistema de som muito, muito apurado. Eles fizeram uma pesquisa para entender como é escutar vozes, e fizeram isso de uma forma incrível. Vi vídeos de pessoas no YouTube falando sobre como é escutar vozes, e é insuportável.

Não tenho detalhes específicos do porquê isso acontece, mas Hellblade 2 consegue passar um pouco dessa sensação terrível e incessante.

Quando as vozes param por algum tempo, você sente um alívio enorme. Já vi pessoas que escutam vozes dizendo que elas estão sempre presentes, às vezes em maior intensidade, falando coisas horríveis, e de repente elas param e voltam do nada.

Com fones de ouvido, você tem um sistema em que as vozes falam ora do lado esquerdo, ora do lado direito, então você realmente precisa jogar com fones.

Não é um gameplay pensado para jogar com um amigo, é você na sua em casa com fones de ouvido. A Ninja Theory mandou muito bem nesse aspecto, até melhor do que o pessoal da Remedy com Alan Wake 2.

E olha que Alan Wake 2 também tem um áudio excelente, mas Hellblade 2, por ser um jogo menor e com mais cuidado nos detalhes, acaba se destacando ainda mais nesse sentido.

A trilha sonora de Hellblade 2 também é muito interessante. Eles escolheram orquestra nórdica tribal, que encaixou perfeitamente.

Escutar vozes o tempo todo cansa demais. É como se não houvesse respiro. Então, seis horas de jogo é o ideal.

História

Hellblade cria uma ambiguidade proposital entre a história nórdica/celta e a psicose da protagonista, Senua. Assim, você não sabe o que é real e o que não é.

A ideia que fica, ao longo da história, é que Senua enxerga coisas que na verdade não são reais. Isso é sugerido até em uma fala de um personagem, embora eu não vá detalhar essa fala aqui.

A impressão é que ela tem essa psicose, e isso, de certa forma, lhe dá força, garra e a capacidade de encarar os desafios e entender o mundo ao redor dela e a si mesma da melhor forma possível.

Os povos antigos tinham uma relação intensa com a natureza e os lugares onde viviam. Por exemplo, os nórdicos viviam em regiões com tempestades e atividade vulcânica, e faziam muitos sacrifícios para tentar apaziguar essas forças naturais.

Eles interpretavam essas tragédias climáticas e vulcânicas como questões religiosas, acreditando em gigantes e outros seres mitológicos. No jogo, essa ambiguidade é complicada; você não sabe bem o que está acontecendo, mas a impressão é que Senua está mais para o lado da psicose.

Os povos antigos enfrentavam eventos naturais e atribuíam significados mitológicos a eles. A mistura desses dois elementos, junto com a qualidade visual do jogo, nos leva a uma saga surpreendente, mas cheia de desconfortos para quem passa por ela.

Para quem gosta de história, jogar Hellblade pode ser uma experiência enriquecedora. Pesquisei alguns nomes durante o jogo; alguns parecem ser inventados, mas outros são reais.

Por exemplo, os draugrs são criaturas que representam mortos-vivos e estão intrinsecamente ligados ao inferno na mitologia nórdica.

Em algumas regiões, acreditava-se que os vulcões eram uma conexão com o inferno, e essas criaturas saíam de lá. Isso é muito interessante de ver no jogo.

The Last of Us 2

O jogo The Last of Us 2 tem um trecho com criaturas chamadas “clickers”. Quem já jogou sabe que os clickers não enxergam e utilizam a ecolocalização.

Hellblade 2 tem um trecho escuro em uma caverna com criaturas semelhantes, e posso dizer que o combate é extremamente parecido e assustador.

No entanto, isso quebra um pouco a imersão para quem já jogou The Last of Us 2, pois eles usam muito a cor vermelha em cenários escuros com partículas de poeira. Você fica pensando: “Mas isso aqui é The Last of Us 2 ou Hellblade 2?”

Quando algo é muito bem feito, é plausível copiar, mas não fazer igual. O famoso “copia, mas não faz igual”.

E, nesse caso, ficou muito parecido, inclusive o áudio das criaturas tomando pancadas e tal. Para mim, isso ficou complicado, porque quebrou a imersão. Ficou sensacional, mas você sabe que isso funciona porque funcionou em outro lugar.

Se você nunca jogou The Last of Us, beleza, mas se já jogou e chega nesse trecho em Hellblade, fica muito parecido.

Para mim, isso não pegou bem. Muda o som, muda um pouco os personagens, faz algo diferente. Os draugrs da mitologia nórdica são morto-vivos, mas por favor, que fossem diferentes dos clickers. Nesse ponto, achei negativo.

É bom?

Hellblade é bom, pessoal. Essa é uma pergunta básica, mas gosto é gosto. Agora, se você perguntar sobre os aspectos técnicos, é um jogo que é extremamente bem feito. Você tem simulação de física a todo instante, nas roupas, nos tecidos ao redor do mapa, e partículas de alta qualidade.

O terreno tem uma tesselação absurda, e eles usam técnicas de fotogrametria com itens da vida real colocados de forma perfeita no cenário. Utilizaram várias técnicas para fazer esse blend de forma suave com a Unreal Engine, que tem até documentação mostrando como fazer isso.

Temos capturas de movimento não só faciais, mas também corporais.

As batalhas e finalizações são incrivelmente bem feitas, e algumas finalizações aparecem pouquíssimas vezes, usadas para compor o combate e contar a história.

Agora… Você é obrigado a gostar? Não, você não é. Você também não é obrigado a jogar, mas é legal reconhecer quando um jogo é tecnicamente bom e executa as coisas de forma satisfatória.

Isso não quer dizer que você precisa gostar ou que precisa ser seu tipo de jogo.

Tem gente que gosta de jogos que parecem o Google Maps, e esses jogos serão bons para essas pessoas, e tudo bem.

Vejo muita briguinha boba sobre estúdios, PlayStation vs. Xbox, mas eu jogo o que acho legal. Quando reconheço um aspecto técnico bom, eu elogio, independentemente do estúdio. É ridículo brigar por isso. Você tem que jogar o que te diverte, independentemente de quem fez o jogo.

Algumas pessoas dizem que Hellblade é um filme, mas se tem gente que gosta desse estilo, está tudo bem. Respeite o que as pessoas gostam.

Não tente convencer alguém de que é ruim só porque você não gosta. Pegue premiações como exemplo, premiações podem escolher jogos que você detesta, mas isso não importa. O que importa é o que você gosta.

Então, tecnicamente, Hellblade é um jogo dentro do estilo que gosto, mas não é o melhor jogo da minha vida, sei lá, gostei mais de God of War ou The Last of Us 2, por exemplo.

Hellblade 2 tem uma narrativa fantástica, técnicas sensacionais e é muito bem executado, utilizando a Unreal Engine, o que ajuda nos gráficos. Isso não garante que você vai gostar, mas os gráficos são incríveis.

Algumas pessoas podem querer mais opções no sistema de combate, upgrades, etc. Cada um tem seu gosto. Não tem como um jogo agradar a todos.

Você precisa saber quais são os pontos positivos do jogo e o que te agradaria mais. Não precisa dizer que é um lixo só porque é linear. É o seu gosto.

Hellblade é um jogo de 6 horas, então é curto, mas não poderia ser maior. Seria extremamente difícil manter essa qualidade por mais tempo.

Tem várias animações e diálogos específicos. Manter a qualidade por 6 horas já é impressionante.

Estender isso só tornaria o jogo cansativo, principalmente por causa da psicose da personagem principal. Então, para a proposta do jogo, 6 horas está de bom tamanho.

A história também está redondinha, tudo se encaixa bem.

Algumas pessoas podem reclamar da duração, mas já existem vários jogos com mecânicas que podem te oferecer horas e horas de gameplay, é só ir lá e jogar esse tipo de jogo. 

É ignorância querer que um jogo tenha obrigatoriamente dezenas de horas sem levar em consideração o estilo e a proposta.

Você precisa ser maduro o suficiente para entender que existem jogos com propostas diferentes. Dentro do que Hellblade se propõe, o tempo de jogo está sensacional.

Eu gostei bastante e expliquei aqui como funciona essa questão de gosto.

Olhe para os aspectos técnicos: todos são fantásticos. Se você curte o estilo, vai gostar de Hellblade 2. Se não curte, não enche o saco.

E claro, é incrível que você mesmo possa utilizar o motor gráfico utilizado neste jogo, Unreal Engine 5 é de graça para todos! Se você quiser aprender a utilizar, incluindo os conceitos de criação de cenários realistas que vemos no jogo, recomendo conferir o Curso Neriverso de Criação de Jogos, o meu curso. É uma oportunidade de mudar a forma como você enxerga os jogos, esse pode ser tornar um grande hobby ou até uma profissão, espero que goste.

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